Em junho de 2019, o periódico científico Scientific Reports, do grupo Nature, publicou o achado de uma nova espécie de dinossauro que, segundo a escala de tempo geológico convencional, viveu há cerca de 90 milhões de anos, no período Cretáceo. O fóssil foi encontrado no município de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, e estudado por paleontólogos da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), do Museo Argentino de Ciencias Naturales e do Museu de Paleontologia de Cruzeiro do Oeste. A nova espécie foi nomeada Vespersaurus paranaensis, a partir da palavra vesper (oeste ou entardecer em latim), em referência ao nome da cidade onde foi descoberta, e por representar o primeiro fóssil de dinossauro encontrado no estado do Paraná.
De acordo com pesquisadores, trata-se de um animal pequeno, com pouco mais de 1,5 metro de comprimento, que faria parte da linhagem dos terópodes, grupo de dinossauros carnívoros bípedes que também inclui o tiranossauro e o velociraptor. Com quase metade do esqueleto conhecido, mesmo que com muito pouco do crânio, ele corresponde ao terópode preservado de forma mais completa no país, sendo os demais conhecidos com base em crânios parciais, esqueletos mais incompletos ou mesmo poucos ossos isolados.
Esse dinossauro possuía vértebras escavadas por divertículos do sistema respiratório, os quais conferiam leveza ao seu esqueleto (como nas aves atuais); dispunha também de um braço muito reduzido (com menos da metade do comprimento da perna). Sua característica anatômica mais peculiar, no entanto, estava nos pés.
Dedo central
Seu peso era praticamente suportado por um único dedo central, sendo o animal funcionalmente monodáctilo, de forma semelhante aos cavalos atuais. Já os dedos que flanqueavam esse dígito central possuíam grandes garras em forma de lâmina, que serviriam para cortar e raspar. “De forma análoga ao velociraptor, com o qual o vespersauro não é aparentado, ele provavelmente usaria as garras do pé na captura e dilaceração de presas tais como lagartos e pterossauros, os quais sabemos ter habitado a região”, afirma o paleontólogo Max Langer, professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) e líder do estudo.
As rochas do noroeste paranaense em que o vespersauro foi preservado se formaram em ambientes desérticos, indicando que o animal era adaptado a esse tipo de clima. Na década de 70, nessas mesmas rochas, o paleontólogo Giuseppe Leonardi havia descoberto um estranho conjunto de pegadas fósseis. Elas pareciam ter sido feitas por um pequeno dinossauro bípede e monodáctilo, mas na época não se conhecia nenhum animal com tais características ao qual essas pegadas pudessem ser atribuídas. “É incrível que, quase 50 anos depois, parece que descobrimos qual tipo de dinossauro teria produzido aquelas enigmáticas pegadas”, comenta o geólogo Paulo Manzig, primeiro pesquisador a investigar os fósseis de Cruzeiro do Oeste e coautor do estudo.
O Vespersaurus paranaensis não foi a primeira espécie da “era dos dinossauros” encontrada no noroeste do Paraná. No mesmo sítio fossilífero de Cruzeiro do Oeste foram descobertos o lagarto Gueragama sulamericana e inúmeros indivíduos do pterossauro Caiuajara dobruskii. Para Neurides Martins, diretora do Museu de Paleontologia da cidade, o achado deve catapultar as pesquisas paleontológicas na região, que possui comprovado potencial para coleta de fósseis. “É uma área riquíssima, mas ainda pouco explorada, que seguramente irá aportar grandes novidades ao mundo da paleontologia”, diz a pesquisadora. A descoberta foi apresentada à imprensa no dia 26 de junho, na UEM.