Evolução

A Religião chamada Ciência – II

Por Jorge L. Wiebusch

A famosa hipótese acerca da origem das espécies desenvolvida no século XIX pelo naturalista inglês Charles Darwin alcançou destaque e respeito no meio científico e parece ter sido aceita como uma unanimidade nesse meio. No entanto, esse pensamento não é, de fato, uma verdade. Considerando-se o crédito que recebe em detrimento de outras ideias, ela tem polarizado a comunidade leiga e científica, provocando divisão e desconforto.

Na presente série de artigos, analisaremos a precariedade dessa “verdade científica” e como ela tem sido convertida em uma doutrina que, em diversos aspectos, assemelha-se a uma religião, impondo conceitos aparentemente irrefutáveis e instaurando uma espécie de ditadura científica.

Incomprovável

As crenças religiosas têm sido cada vez mais atacadas por meio do argumento da impossibilidade de comprovação dos pressupostos que as embasam. Observa-se, no contexto científico, uma pressão no sentido de posicionar a religião e a ciência em extremos antagônicos. A religião depende da fé, da tradição e do senso comum e admite isso. No caso da ciência, também existem tradições e o desejo pela obtenção de um senso comum unificador. No entanto, isso parece ser esquecido.

A ciência não é infalível, e as hipóteses propostas pelos pesquisadores não são irretocáveis. Como menciona Daros (2009, p. 17, tradução livre),

A ciência é uma forma de conhecimento que envolve conteúdos que recebem ou receberam avaliação diversa, tendo sido verificados ou demonstrados nas ciências formais; falseados ou confirmados no empírico; classificados como eficientes ou ineficientes em tecnologias; ou simplesmente como descritivos ou interpretativos de situações, especialmente na área em que as decisões humanas entram em jogo.

Como se depreende dos aspectos afirmados, a ciência tem seus limites: não é a única e exclusiva forma de conhecimento; não é infalível nem dogmática. (…)

Assim como as experiências do passado, cada revoluçãoo científica deveria ter ensinado à humanidade – especialmente ao grupo que se dedica ao estudo da ciência e da história científica – que não podemos afirmar que qualquer paradigma seja definitivo. Infelizmente, essa postura intransigente e condenável é assumida por uma parcela considerável da comunidade científica.

Os seres humanos sempre buscaram respostas para as próprias inquietações e o atendimento de sua necessidades. A ideia simples e preconceituosa que pretende justificar o surgimento das religiões pode também ser aplicada à teoria evolucionista a respeito da origem das espécies. A tese formulada por Charles Darwin converteu-se em uma “colcha de retalhos” para se adaptar às falsas premissas que surgiram ao longo do anos. A ausência de respostas concretas fez com que inúmeras questões começassem a ser aceitas pela fé, convertendo a teoria darwiniana em uma religião, e seus defensores, em sacerdotes.

A palavra religião significa “religar”, e, em sua acepção original, aplica-se ao relacionamento que os seres humanos desenvolvem com Deus; no caso da ciência, esse termo faz referência ao elo que os membros de determinada comunidade estabelecem entre si: o senso comum.

Alves (2015, p.15) apresenta um interessante ponto de vista em relação à evolução, não das espécies, mas da própria ciência: “A ciência é uma metamorfose do senso comum. Sem ele, ela não pode existir. E essa é a razão por que não existe nela nada de misterioso ou extraordinário.” Não é nosso propósito atacar a ciência ou desprestigiá-la, mas destacar exageros que contribuem para o estabelecimento do antagonismo entre a ciência e a religião.

Ashton (2015, p. 23) menciona diversas discrepâncias verificáveis na hipótese evolucionista. No capítulo VII do livro A Origem das Espécies, Charles Darwin apresenta oposições às quais denomina “minhas visões”. Interessante escolha de palavras, que também é usada por vários fundadores de seitas e religiões. Obviamente, Darwin não pretendia dizer que se tratava de visões sobrenaturais, mas de pontos de vista. Um pouco antes, no capítulo VI (2014, p. 153), o naturalista apresenta outras dificuldades práticas relacionadas ao modelo que ele mesmo propôs:

Muito antes que o leitor chegasse a esta parte da minha obra, muitas dificuldades surgiram. Algumas tão sérias que, até hoje, mal posso considerá-las sem cambalear de alguma forma; mas, a meu ver, o número é apenas aparente, e aqueles reais nãos são fatais à teoria.

A humanidade avançou muito em termos de liberdade de expressão e do direito em relação ao respeito à individualidade. Há variadas estruturas e formas de pensamento, e a multiplicidade de ideias deve ser valorizada. Um modelo pode parecer absurdo para determinado indivíduo (ou um grupo) e fazer completo sentido para outro, e vice-versa. O tempo é testemunha das muitas idas e vindas culturais, científicas e religiosas. “As ideias de Kierkegaard foram rejeitadas por seus contemporâneos, mas se mostraram muito influentes nas gerações posteriores” (FORTINO, 2011, p. 195).

A SEGUIR…

ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. San Pablo. Loyola. 2015.

ASHTON, John F. Evolución imposible: 12 razones por las que la evolución no puede explicar el origen de la vida sobre la tierra. Florida, Buenos Aires. Editorial ACES. 2015.

DARÓS, William R.; Fraga, Fernando Aranda; Bugossi, Tomaso. Conflictos epistemológicos entre el conocimiento científico y el religioso. Libertador San Martín, Entre Ríos. Editorial UAP. 2009.

DARWIN, Charles. A origem das espécies e a seleção natural. San Pablo. Madras. 2014.

FORTINO, Carla (ed.). O Livro da Filosofia. San Pablo. Globo. 2014.