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As maravilhosas girafas

Por Dr. Salomón Huancahuire Vega

A girafa (Giraffa camelopardalis) é um mamífero nativo do continente africano. Sua presença é imponente: o pescoço longo e as patas lhe dão um aspecto majestoso. É o animal terrestre mais alto, podendo alcançar uma altura de 5,8 metros e pesar entre 750 e 1.600 quilos. Pela sua aparência peculiar a girafa tem sido uma fonte de fascinação em diversas culturas; aparece com frequência em pinturas, livros e desenhos animados. Ao estudá-la vemos evidências de um desenho sobrenatural, e não de um capricho da natureza.

O pescoço das girafas tem intrigado a humanidade no decorrer da histór樂威壯
ia, tornando-se, por isso, um ponto de investigação e discussão. Lamarck e Darwin propuseram que o pescoço da girafa evoluiu ao herdar os traços adquiridos por meio do uso e desuso. Darwin pensava que uma seca poderia ter levado as primeiras girafas a esticar o pescoço para alcançar as folhas das copas das árvores. Mas hoje, mediante uma maior compreensão da herança genética, sabemos que, por mais que estiquemos o pescoço todos os dias, não poderemos passar essa característica à nossa descendência.

A anatomia única desse animal impõe desafios interessantes. A girafa possui três sistemas peculiares e essenciais: o sistema músculo-esquelético, que suporta uma massa corpórea verticalmente alongada; o sistema nervoso, que transmite rapidamente a sinalização por meio de longas redes neuronais; e o sistema cardiovascular, que mantém o equilíbrio da pressão arterial. Analisaremos este último sistema, pois é o que apresenta os maiores desafios.

A pressão arterial gerada pelo coração de uma girafa deve ser extremamente alta para bombear sangue verticalmente até o cérebro, ao longo de 2 metros. Nessa posição, a pressão nas artérias é maior na base do pescoço e menor na cabeça.  Por isso, a girafa tem um super coração e uma pressão arterial duas vezes maior do que a de outros mamíferos. Quando, porém, a girafa inclina a sua cabeça até o solo ela se encontra em uma situação que seria potencialmente perigosa: a pressão arterial e o peso do sangue no pescoço ao abaixar a cabeça entre as patas dianteiras seriam tão altos que os vasos sanguíneos poderiam estourar. Por essa razão, as paredes dos vasos sanguíneos têm a espessura adequada para suportar o aumento da pressão, e os sistemas venosos e arteriais são adaptados de maneira singular para amortecer as mudanças potencialmente catastróficas na pressão arterial quando a girafa desce rapidamente a sua cabeça para beber água.

Garantir o ajuste fino da pressão arterial nos vasos sanguíneos da girafa quando está mudando a posição de sua cabeça inclui também um sistema coordenado de controle de pressão sanguínea. Para isso existem sensores de pressão ao longo das artérias do pescoço que, também, indicam a ativação de outros mecanismos; tudo isso para impedir qualquer aumento da pressão enquanto a girafa pasta ou bebe água. A espessura das paredes arteriais, a capacidade de derivar o fluxo sanguíneo arterial sem passar pelo cérebro e uma rede de pequenos vasos sanguíneos entre as artérias e o cérebro controlam a pressão arterial na cabeça da girafa.

Estudos detalhados das peculiaridades da girafa, como seu sistema cardiovascular e o controle da pressão arterial, demonstram que se trata de uma espécie animal excêntrica; uma criatura distinta e maravilhosamente desenhada.

 

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